Dr. Alberto E C Melo – Cardiologia Clínica
Beth, 34 anos, escrituraria, estava em casa numa tarde tranqüila de domingo assistindo a um filme com o casal de filhos e esposo, quando de repente começou a sentir uma “coisa ruim”, uma insegurança, com um medo crescente, injustificado. Sentia-se cada vez mais abafada, respiração curta e ofegante. O coração começou a bater forte e acelerado. As mãos começaram a suar e nos pés uma sensação de dormência e formigamentos. Ficou tonta e junto a toda esta situação, uma sensação de “nó na garganta” e uma dor pesada, em aperto, tomaram conta do peito. O medo de morrer ou de perder o controle da situação era insuportável e pediu para ser levada para o pronto-socorro.
Após passar pela triagem foi submetida a vários exames, dentre eles o eletrocardiograma. Todos normais. Diagnosticada como “crise nervosa” foi medicada e mais tranqüila, voltou para a sua residência.
Ficou um período sem alterações, mas logo depois as crises voltaram a acontecer nas mais diversas situações, no trabalho, na igreja, durante a madrugada e Beth passou a sentir medo de sentir medo, passando inclusive à reclusão social.
Procurou auxilio de um cardiologista e foi diagnosticada como portadora da Síndrome do Pânico. Iniciou com a medicação específica, suporte psicoterápico, atividades físicas de apoio e conseguiu controlar definitivamente a situação, passando a levar uma vida normal.
PRINCIPAIS SINTOMAS
- Taquicardia: aumento da freqüência cardíaca ou palpitações (sensação de batimentos desconfortáveis)
- Sensação de sufocação, respiração curta, suspirosa e ofegante
- Sudorese profusa, difusa ou localizada nas extremidades (mãos e pés)
- Dor ou desconforto precordial – medo de infarto do coração
- Náuseas, vômitos, diarréia, sensação de engasgo ou desconforto abdominal
- Tremores finos nas mãos ou difusos por todo o corpo
- Alterações táteis, como dormências ou formigamentos levando até mesmo a enrijecimento das mãos e pés
- Tonteiras, cabeça leve, sensação de instabilidade ou “estar aérea”
- Desrealização (sair da realidade), despersonalização ou sensação de uma tragédia iminente
- Ondas de calor, calafrios ou ruborização facial
- Bolo faríngeo ou sensação de nó na garganta
- Sensação de desfalecimento, de desmaio iminente
- Medo de enlouquecer ou perder o controle da situação
- Medo de morrer
- Vontade de sair correndo, de mudança imediata de ambiente.
SINDROME DO PANICO – O QUE É?
Imagine a Beth ou você, sozinha, andando em uma rua escura durante a noite, totalmente tranqüila, “pensamentos lá na lua” e ao passar em frente a uma casa um enorme cão pule com toda força sobre o gradil e passa a latir de maneira assustadora bem próximo ao seu ouvido. O seu organismo vai reagir imediatamente com uma descarga adrenérgica, ou seja, descarga de adrenalina, colocando você em duas condições: fuga ou ataque. A adrenalina vai promover de imediato: taquicardia (batimentos cardíacos acelerados), maior inotropismo (força de contração do coração), respiração mais acelerada (maior consumo de oxigênio), vasoconstrição periférica, lançando o sangue da periferia do corpo para o coração, cérebro, pulmões e músculos. A “saída” do sangue da periferia para os músculos vai deixar você em condições de fuga ou ataque, mas vai promover palidez, sudorese, calafrios e às vezes dormências. Neste momento normalmente ocorre aumento da pressão arterial sistêmica.
Enfim, durante uma situação como esta o seu “instinto físico” age de imediato, mais rápido que o racional. É questão de sobrevivência e é uma resposta totalmente fisiológica, normal.
Agora vamos imaginar outra situação. Uma pessoa dormindo. O que acontece? O coração diminui a sua freqüência, chegando em torno de 40 a 50 batimentos por minutos. A freqüência respiratória diminui. A pressão arterial sistêmica fica mais baixa. Todo o metabolismo basal está diminuído. Neste período temos no nosso organismo pouca adrenalina em circulação. O sistema adrenérgico está “desativado” e começará a ser novamente ativado por volta das 5 – 6 horas da manhã. A partir deste momento, preparando-nos para despertar para as tarefas do dia a dia a adrenalina começa a aumentar no nosso organismo e conseqüentemente, de forma fisiológica, aumenta a freqüência cardíaca, respiratória, a pressão arterial e o metabolismo basal.
Em termos puramente fisiológico a Síndrome do Pânico nada mais é que uma descarga anormal, súbita e rápida de adrenalina, que provoca todas estas respostas orgânicas enumeradas acima, atendendo a uma determinação cognitiva em resposta ao MEDO. O que vem por ai? Vou morrer? Estou tendo um ataque cardíaco? Estou ficando doido? Estou perdendo o controle da situação?
Depois de alguns minutos (5 a 20 longos minutos) o seu cognitivo “descobre” que nada de anormal esta acontecendo. Que você não está morrendo, tendo um ataque do coração ou enlouquecendo. “Descobre” que NÃO TEM PERIGO INIMENTE e a descarga de adrenalina diminui levando ao desaparecimento de todos os sintomas descritos.
CAUSAS POSSÍVEIS
– Neuroanatomica
O locusceruleus, segundo a neurociência é o responsável pelas reações fisiológicas e autonômicas do pânico. Ele se conecta com o nervo vago que percorre o tórax e o abdômen, o que explicaria as reações cardiológicas, respiratórias e gástricas. Existe também a conecção do locusceruleus com o sistema límbico o que justificaria os sintomas de medo e ansiedade. Diante destas duas conexões (vagal e límbica) o locusceruleus seria o responsável pelas reações fisiológicas e autonômicas do pânico.
– Comportamental
Pessoas com maior suscetibilidade ao medo, ansiedade, estresse, traumas após eventos pessoais (morte em família, perdas financeiras, pressões psico-social, etc…). Esta teoria sozinha não consegue explicar toda a sintomatologia apresentada pela Síndrome do Pânico.
– Psicanalítica
Situações mentais inconscientes e reprimidas “beliscam” o individuo em um momento em que ele se encontra “desarmado” e desencadeiam a crise.
O Transtorno ou Síndrome do Pânico conta do CID 10 – Classificação Internacional de Doenças e estudos apontam para as causas psicanalíticas e comportamentais como “gatilho” que desencadeiam o surto em pacientes com predisposição neuroanatomica. O Pânico faz parte dos denominados transtornos de ansiedade, fobia simples, fobia social e o estresse pós-traumático, transtorno obsessivo-compulsivo e o transtorno de ansiedade generalizada.
TRATAMENTO
É extremamente importante uma relação médico-paciente de confiança com uma escuta atenciosa e realmente interessada pela história do paciente. A anamnese tem que ser minuciosa e mesmo com um exame clínico bem feito, se faz necessário exames complementares para afastar problemas tireoidianos, glicêmicos, neurológicos, cardiológicos, dentre outros. O que o paciente mais precisa neste momento é um “porto seguro” e quanto mais certeza o médico tiver no diagnóstico, mais firme ele estará para transmitir ao paciente o que ele mais precisa: segurança.
- De forma tranqüila e segura o médico deve detalhar ao paciente sobre o que é a Síndrome do Pânico, não deixando perguntas sem respostas. Os sintomas são assustadores quando não compreendidos e o processo educativo do paciente é uma etapa fundamental para que o mesmo possa ter êxito na sua recuperação.
- Conhecendo os detalhes da crise, como inicia, como finaliza, os sintomas, as possíveis causas, o paciente orientado pelo médico ou outro terapeuta da área, passa a uma etapa de auto-regulação emocional, de autocontrole. São várias as técnicas possíveis e dentre elas se destaca a TCC – Terapia cognitiva comportamental, Método dos Cinco Passos, relaxamento, yoga, rigor no reajuste do ritmo circadiano, dentre outras.
- Qualquer reação somática mal interpretada pela mente pode desencadear uma cascata catastrófica de outras reações. É importante desenvolver pacientemente o controle às exictações internas e externas.
- Existe hoje uma gama de medicamentos que auxiliam muito o tratamento da Síndrome do Pânico e na fase inicial às vezes chegam a ser fundamentais no controle das crises. Os medicamentos de maneira alguma substituem as medidas acima descritas, eles não “educam” o paciente e devem ser entendidos apenas como medidas de suporte.
Independente das medidas psicoterápicas e farmacológicas uma situação que merece uma profunda reflexão é a questão existencial. Às vezes é de difícil percepção a perda da “ponta da corda” e a roda viva nos leva a um emaranhado de nós. Nos perdemos na caminhada e a Vida em algum momento apresenta a conta e nos chama à nossa realidade. Nas pessoas com maior sensibilidade existencial é comum a ansiedade generalizada, o pânico e a depressão como parte deste processo. É necessário colocar a Vida no controle da vida e esta no controle da mente e do corpo. Hoje a grande maioria das pessoas tem um comportamento extremamente mental da vida. (Você é o que você pensa – isto virou dogma). Outros um comportamento corporal apenas. A própria TCC – Terapia cognitiva comportamental é falha neste aspecto. Mente-corpo, corpo-mente. A mente (pensamento) está no comando! Tudo esta sobre controle! Mas o que é o pensamento se não reflexo da realidade material vivenciada, disputada ou desejada. Mesmo a imaginação flui de uma realidade material. Isto diminui o que somos. Somos mais e a não compreensão desta situação nos leva à materialização da vida. Neste aspecto muitas pessoas se perdem, passam a viver batalhas que não são prioridades para a sua ida. Entram na roda viva e passam a viver em estado de ansiedade, depressão ou estes associados. As três medidas de farinha (corpo, mente e espírito) estão fora de sintonia e faltam-lhes o Fermento. (Parábola do Fermento). Enfim, para o equilíbrio a Vida tem que estar presente na vida. Este último parágrafo fica como um tópico para reflexão.
Gostei muito do Artigo fez eu entender muita coisa referente a Ansiedade.